quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A violência moderna e a queda do herói de Hollywood

(Samora Correia - Abril 2009)
Estava eu a ver um filme do Van Dame em que ele surpreendentemente, ou talvez não, chega a uma cidade do interior sem lei e dá uma valente tareia em 5 marmanjos de grande porte que assaltavam uma mulher, linda por sinal, que por muita coincidência vai para a cama com o actor no final do filme! E depois pensei: isto nos tempos de hoje era impossível e por várias razões. Enumerando algumas: 1º- os marmanjos não estariam a assaltar uma mulher bonita mas sim a bomba de gasolina mais próxima; 2º- pelo menos 4 dos 5 marmanjos estavam armados das mais sofisticadas armas de fogo, incluindo uma shotgun e um lança granadas; 3º - deste modo o nosso herói apenas poderia dar o 1º murro e o resto eram apenas tiros e o seu sangue iria manchar a calçada de tal forma que demoraria semanas a desaparecer; 4º - a mulher bonita não ia para a cama com o herói porque 1º ele estaria todo suado, furado e sujo e seria uma javardice, coisa que as mulheres bonitas de hoje não toleram e 2º porque ela iria fugir e receber tratamento psicológico sofrendo do trauma para toda a vida!
Pois é… já não há espaço para estes heróis! O verdadeiro herói foi aquele que conseguiu passar despercebido ao lado dos assaltantes sem levar um balásio e ainda conseguiu ver a tranca da miúda boazona enquanto os bandidos a tentavam violar!
Nos tempos de hoje é incrível como, em pleno dia e pleno centro de Lisboa, a multidão passa ao lado de um drogado a assaltar uma velhinha ou um puto da escola voltando a cara ignorando o drama do assaltado. Já presenciei e também fiquei imóvel esperando apenas uma única pessoa que reagisse e gritasse com o assaltante mas… nada! Falta solidariedade e espírito de entreajuda! Talvez na aldeia fosse diferente e o assaltante levasse com o cabo de uma enxada ou um ancinho, talvez!
Heróis à parte, que já não os há, a problemática da violência moderna encerra muitas questões e particularidades. É sem duvida um problema social que resulta de anos e anos de ignorância e esquecimento por parte do poder politico, de outros problemas sociais graves que nunca foram combatidos e resolvidos. Vemos também o exemplo da França e principalmente dos arredores de Paris onde os emigrantes, desde sempre excluídos e renegados à ausência de oportunidades, se começaram a revoltar e o mínimo desacato desencadeia uma onda de violência muito difícil de travar. Sei que este parece um discurso politico da oposição e, não quero com isto, ilibar as pessoas dos seus actos criminosos pois agora só resta mesmo castiga-los. Mas, e quem castiga e chama à responsabilidade todos os ministros de solidariedade social, emprego ou economia que tendo todos os meios monetários e estudos e alertas de pessoas que trabalhavam junto destas minorias, ignoraram ou puseram em prática medidas vagas sem concertação e totalmente ineficazes.
Mas o que é mais assustador ainda não é esta onda de violência ou a facilidade que estes bandidos têm em decidir quem morre ou vive a quem se atravessa nos seus caminhos. O que assusta é que esta situação não tem um final à vista, nem feliz nem menos feliz pois por cada pai preso ou fugido da policia teremos 2 ou 3 filhos traumatizados com a ausência e o mau exemplo dos mesmos e com enormes probabilidades de se tornarem iguais ou piores aos seus progenitores. Os miúdos, principalmente os que habitam nestes bairros problemáticos, acabam por aprender e se formar não na escola dos números e das letras mas sim na escola da vida de rua, lado a lado com a violência e com o dinheiro fácil proveniente do tráfico de droga e do roubo.
Considero assim que ignora-los ou remete-los para bairros sociais e dar-lhes um rendimento mínimo é de longe a pior solução! Peguem nem que seja num em cada 5 miúdos destes grupos de risco e dêem-lhe uma oportunidade de tirar um bom curso de fotografia, técnico de som, pintura, mecânico ou técnico de manutenção e acompanhem-no. A escolaridade após o 9º ano é uma aposta a muito longo prazo com poucas probabilidades de sucesso até porque: 1º para se ter sucesso em tantos anos de escola é necessário um lar estável e que dê bastante apoio (coisa rara nestes meios); 2º - até mesmo os alunos com bom ambiente familiar e bom aproveitamento têm enormes dificuldades em arranjar emprego após tantos anos de estudo. E essa falta de trabalho aliada a baixas expectativas de uma sólida e rápida integração e realização profissional origina uma desilusão do tamanho do mundo e as consequências tornam-se ainda mais graves e quase irreversíveis. Não forcemos estes miúdos e não os “empurremos” para um longo túnel que a única luz que poderá surgir no fim poderá ser a que “baterá” num banco de jardim nos longos dias sem emprego ou a luz frouxa que poderá entrar pela janela estreita de uma prisão de esquadra do bairro.
Por cada jovem que ajudarmos estamos a garantir uma boa integração para os seus futuros filhos. É uma aposta no futuro e não uma solução momentânea de curto prazo!

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