quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Infância revisitada

“Fod...-se, pá! Não vale bujardas à figura, caral…!“. O que há a retirar daquele grupo de fedelhos de 10 anos a jogar ao “Quem falha vai à baliza”, no ringue do meu bairro, é um sentimento de alivio e saudosamente agradável! Isto porque apesar do linguarejo é de salutar que 6 miúdos daquela idade estejam ali, na rua, sozinhos, de calções sujos, em tronco nu quando já batem as 20 horas e por entre chutos de bico vão silenciosamente receando o berro das mães para irem jantar. É de salutar que não estejam fechados em casa a jogar playstation enquanto fingem que fazem os trabalhos da escola. Ali não estão certamente a fazer os trabalhos mas mal ou bem estão a conviver, estão a crescer e a aprender valores muito básicos que não se aprendem nem nos livros, nem nos jogos de computador. Aprendem os palavrões, aprendem a levar uns calduços e sopapos dos mais velhos, vão a prender que as regras do jogo mudam em cada 2 minutos e que os putos mais novos nunca têm razão, que os golos destes nunca valem e só rematam quando os mais velhos estão cansados ou fartos. “Goloooo… antes do meio campo vale a dobrar, ein. São dois golos – Quem disse, caral…?- Ahh, joguei uma vez com um primo meu que é mais velho e muita fixe e ele disse que era assim! – Ah, tá bem!”. Todos nós, os que tivemos uma infância normal, vivemos estas experiências e eu cheguei a recear não presenciar mais estes nostálgicos episódios. Os centros urbanos e os arredores dormitórios das grandes cidades carecem deste à vontade e liberdade que as crianças devem ter para brincarem e conviverem na rua. Os crimes e raptos assustam os pais que também parecem ter um pouco de preguiça, falta de tempo ou pouca vontade em saindo de casa com os seus filhos, vigiando-os mas deixando-os brincar com os amigos do bairro. E nem precisam de lá estar todos os pais. Se ganharem a confiança de alguns dos seus vizinhos podem-se revezar com a segurança que nada acontece aos seus filhos. Também não podemos viver sempre oprimidos e receosos de socializar e viver em comunidade. Aliás quanto mais pessoas andarem na rua e nos bairros mais desencoraja os próprios delinquentes e criminosos que acabam sempre por fugir às multidões.

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