terça-feira, 12 de outubro de 2010

O paraíso da biodiversidade à porta de casa



O presente ano de 2010 é o Ano Internacional da Biodiversidade. Todos gostamos de ver os belos documentários BBC ou National Geographic sobre o mundo natural e o mundo selvagem. Fomos até surpreendidos, que nem uns ignorantes, pelo documentário National Geographic das coutadas e dos montados filmado em Portugal, mais concretamente entre o Ribatejo e o Alto Alentejo. Mostraram-nos uma diversidade de espécies que nos deixou perplexos e extasiados e onde surgem entrevistas aos velhotes que ali habitam desde que nasceram, e muitos deles desconheciam grande parte dos animais e plantas com que interagem há anos. Ora circunscrevendo ainda mais este assunto ao nosso concelho, grande parte dos residentes desconhece também a espantosa riqueza de flora e fauna que temos a metros da nossa porta! Está mesmo ali, só precisamos sair das estradas principais e entrarmos nos caminhos rurais, nos arrozais, nas herdades, nas charnecas e montados.



O concelho de Benavente é um dos maiores do país e dos mais ricos em flora e especialmente avifauna. A Reserva Natural do Estuário do Tejo é a maior zona húmida do país e a 2ª maior da Europa e está “plantada” em plena freguesia de Samora Correia, seja na zona da Ponta d’Erva, da zona de Pancas ou nas Salinas de Samora (não Alcochete). Quantos de nós já exploraram bem estas zonas? Dar uma caminhada nesses locais, tentando não perturbar as espécies residentes, ver os Flamingos que todos os anos nos visitam (Setembro a Outubro) na sua rota migratória para África, ou todas as outras aves que ali se encontram? É um autêntico santuário de aves! São aos milhares, de variadíssimas espécies. Nem tudo está mal… creio até que muitas das populações têm vindo a aumentar. Serviu também a consciência (e multas) dos próprios caçadores pois antigamente disparavam contra tudo o que mexesse (águias, corujas, milhafres, garças).
Mas, tal não é a riqueza da nossa zona que nem é totalmente necessário ir para as zonas de Reserva pois só caminhando pelo valado da Herdade das Silveiras (perto da pista das avionetas) já vemos uma imensidão de aves: desde os típicos bic-clacs, verdelhões, tintelhões (ahhh tantas vezes a armar ao visgo para apanhar estes passarinhos…), Cegonhas, Garças, Milhafres, Corujas, Bufo-Real, patos bravos, perna-longas, Alfaiates, Galinhas d’Agua, etc, etc (até pareço um entendido... ).



Temos ainda a zona do Sorraia no Biscainho, Aldeia do Peixe ou Barrosa. Nas zonas de montado e sobreiros temos os coelhos, raposas, javalis, furões, ouriços, etc. Por acaso furões e ouriços já avisto muito raramente. Tenho notado igualmente, um decréscimo no nº de vezes em que via batráquios e répteis. Há uns 10-15 anos lembro-me de dezenas de cobras e outros lagartos perto da casa dos meus pais a cruzarem a estrada no Verão. Lembro-me até de ver bastantes saramantigas ou salamandras.



É um ser um pouco repugnante mas ao mesmo tempo singular e fascinante. Poderá haver muita gente que se questiona qual a importância dos horríveis sapos, lagartos, cobras, moscas nojentas, mosquitos, carochas, etc. Mas eles são a parte mais importante de toda a pirâmide da biodiversidade animal pois estão na base e todas as outras depende delas. Os belos Flamingos, as Cegonhas, as Garças, as corujas… todos dependem destes bicharocos que chegamos a odiar mas que devemos defender a todo o custo. Toda esta riqueza tem-me suscitado algumas questões, nomeadamente:

- Existe algum estudo detalhado da fauna e flora circundante?
- Alguma vez foi solicitado? Está actualizado?
- Porque não tomar essa iniciativa? Utilizar jovens biólogos e zoólogos finalistas ou desempregados residentes no concelho ou concelhos próximos ou ainda uma parceria com uma universidade da especialidade. Estas entidades anseiam por projectos deste género.
- Saber quais as espécies residentes, qual o seu numero, identificar as mais populosas e principalmente as espécies em risco. Será que a abundante população de cegonhas não é agora excessiva e poderá estar até a prejudicar outras espécies? Não sei… não sou biólogo ou zoólogo!




Era importante um estudo detalhado sobre o impacto da população humana residente, comércio e industria do concelho, no habitat dessas espécies. Planos de acção e comunicar às populações os resultados (sim… e não fazer com que seja mais um estudo com um monte de dossiers que fica arquivado numa caixa numa sala escura). É necessário informar essas mesmas populações de como elas próprias podem ajudar na preservação deste habitat que é incrivelmente rico e que está aqui, mesmo à nossa porta! Somos abençoados por isso!

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