segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Refinado ou esquisito?

Enquanto aguardava ao balcão pela minha tosta reparei no requinte, na excelência e refinada exigência do cliente português. “Olhe, se faz favor, é um café curto, mas não muito, numa chávena longa mas não escaldada!”; “Para mim é uma tosta mista, com uma fatia de fiambre fininha, mas com pouca manteiga e só de um lado.”; “Pode-me dar um galão pouco escuro e não muito quente?”. Bolas!!! Mas o que é isto? Já visitei alguns países tanto na Europa, como na Ásia e até América e… nunca vi isto em lado algum! Juro! Eu próprio também sofro (moderadamente) desta fineza e primor e, distraidamente, também dei comigo a fazer uma ou outra exigência num café ou restaurante situado num desses países. A reacção é instantânea: não percebem, mostram estranheza, repudio e fazem um olhar que rapidamente me demove de qualquer requinte e apenas rezo para que o meu pedido não traga nenhuma cuspidela ou bicharoco só por vingança. Não podemos fazer mais que um pedido (p.ex. uma garrafa de água, sff), ou no máximo 2 pedidos num só (p.ex. uma garrafa de água fresca, sff) e mesmo este ultimo tem fortes probabilidades de não ser atendido na totalidade. Dão-nos a garrafa de água natural e dizem “ok, ok” acenando com a cabeça de facilmente percebemos que nem vale a pena insistir.
Assim, torna-se bastante interessante analisar este “requinte” e este elevado grau de exigência do típico português. Poderá ser fruto do nosso gosto refinado pois sabemos o que é bom, mas também poderá ser um pouco…sei lá… estúpido e mesquinhice parva!?!?! É que conhecendo nós algumas dessas pessoas (sim, todos nós conhecemos alguém assim), a fazer esses detalhados pedidos, o seu grau de exigência no balcão do café não é o mesmo que tem com o seu filho na escola (onde não comparece a nenhuma das reuniões de pais), com o condomínio do seu prédio (onde nem sequer se digna a comparecer na reunião mas critica tudo e todos com quantos dentes tem na boca) e tem a mesma atitude para com o estado, o governo e a politica do país onde nem sequer se dá ao trabalho de ir votar. Este é o típico português! Não somos todos assim, felizmente, mas existem muitos, muitos mesmo (de qualquer idade ou estrato social). Podemos ser pobres, extorquidos pelo estado, prejudicados pelo sistema (Justiça, Saúde ou Educação). Não faz mal! Barafustamos mas aceitamos, mas dá-nos um gozo enorme beber aquele café curto, mas não muito, servido numa chávena grande não escaldada e sem açúcar mas sim adoçante! E ai do empregado que não atendeu bem ao pedido!

Sem comentários:

Enviar um comentário